












No branco reúnem-se todas as cores e a cada um compete distingui-las e experimentá-las, uma a uma. E em cada ser humano há um arco-íris de possibilidades e de escolhas.
Perante um olhar, o do fotógrafo intuitivo, que o chama ou apenas observa, o modelo expõe os matizes das cores que espalhou pelo seu corpo. Fê-lo porque assim o sentiu. Sentiu a atração de uma ou de outra, apeteceu-lhe o vermelho ou o azul, o rosa ou o verde, o dourado ou o preto, o amarelo ou o branco. Ou um pouco de todas, mas não ao mesmo tempo.
Possibility é uma obra em que o corpo humano é um artefacto e um artesão. E o homem e a mulher se veem camaleões das suas próprias emoções. É um ritual de unção em que cada um de nós pode envolver-se para ser sujeito e objeto da sua vontade. Somos sacerdotes de um credo de descoberta das nossas sensações, do nosso ser, feito de cada momento em que as nossas mãos procuram ou nos pintam de uma cor, nos dão tons de alma.
E é como o outro nos olha que nos faz existir para além de nós. O fotógrafo é cúmplice, mas discreto. Não julga, aprende e apreende. Prende um momento, uma expressão, um esgar, um movimento de cor. A nossa personalidade é a nossa máscara e ele gosta destas personagens e da sua criação sempre mutante.
O processo é simples: sete ou oito vasos de tinta com cores várias, um enorme lençol branco e muita luz. Ao modelo – velho, novo, europeu, asiático ou negro, alto, baixo, gordo, magro, homem, mulher – cabe oferecer a cada parte do seu corpo os unguentos que preferir e passa-los de forma a perceber as reações que provoca. Concentrado em si próprio, envolvido no desfrutar de cada momento, pode não se dar conta de outra presença ou olhá-la de acordo com o seu recém-disfarce ou recém-transparência de sentimentos, consoante o estado da sua alma. E a câmera dispara. Fixa o que vê. Adivinha o que se mostra.
E este caleidoscópio imprevisível e irrepetível traz sempre novidades, permite mais ilimitadas transformações, induz à libertação. As possibilidades são virtualmente infinitas, portanto as imagens captadas resultam de um exercício de amostragem do olhar.
Este diálogo entre as cores que vamos escolhendo ao longo do tempo e o olhar de um observador interessado é uma alegoria da nossa vida: a cada um de nós cabe escolher as suas cores e mudá-las onde e como quisermos. Aos outros, que já nos influenciam pela sua presença, caberá apenas uma interação mínima, um interesse empenhado, mas não um intervenção de censura ou de rejeição.
Num mundo em que a capacidade de escolha é cada vez mais limitada pela imposição de padrões de comportamento dito maioritário, «Possibility» é um grito suave, mas eficaz, de independência e de respeito pelos direitos do Homem.
Em todos e em cada um de nós, louve-se a nossa inspiração, a nossa imaginação, as nossas opções. Louve-se toda a «Possiblity»!
Nuno Verdial Soares